Eu estava ansiosa para o dia do show chegar! Eu tinha vinte e poucos anos e morava em São Paulo.
Quando uma das minhas amigas me ligou, dizendo que passaria na minha casa para irmos juntas comprar os ingressos, me arrumei, peguei o dinheiro no meu quarto e, ao descer as escadas do sobrado onde eu morava, algo me disse que eu não deveria ir ao show.
Abri o portão e ela estava lá me esperando com mais duas amigas no carro. Eu disse que não iria mais. Ninguém entendeu, perguntaram se meu pai não havia deixado ou se eu estava sem dinheiro, se dispuseram a me ajudar, emprestariam dinheiro. Mas eu não queria mais ir e não sabia o porquê. Fui firme na minha decisão e elas foram comprar os ingressos sem mim. Iam vários amigos, quase dez ao todo.
O dia do show chegou e a turma foi em dois carros. Eu fiquei em casa.
Algumas horas depois o telefone tocou e era uma delas dizendo que eles haviam sofrido um grave acidente numa movimentada avenida de São Paulo – a 23 de Maio. Houve um engavetamento e tinha vários carros envolvidos. Uma pessoa morreu em um dos carros, infelizmente, mas não era ninguém da nossa turma, graças a Deus!
Eles haviam sido socorridos e levados a diferentes hospitais. Ela pedia que eu avisasse os pais dos nossos amigos, que os acalmasse, mas principalmente que omitisse dos pais dela que perderiam o controle, quando soubessem do acidente. Pediu ainda para ir para minha casa trocar de roupa, pois não poderia chegar em sua casa com as roupas sujas de sangue. E assim fizeram. Quando foram liberados do hospital, foram à minha casa para trocar de roupas e minimizar o impacto junto aos seus pais.
Nesse momento eu entendi porque eu havia perdido a vontade de ir ao show. Entendi quem me avisou para eu ficar em casa, em pleno sábado à noite, enquanto a turma toda ia ao show da banda preferida.
É assim que a intuição funciona. Na hora não entendemos o porquê, mas se aceitamos e respeitamos, em seguida temos a confirmação e a resposta.
Rossana Bentivoglio
Maio/2018